quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mike Ladd - Welcome to the Afterfuture (2000)

Há muitas maneiras de se conceber um disco ou uma música. A inspiração pode vir dos mais insuspeitos lugares. Porém, não é comum que essa criação seja conscientemente baseada em um livro. Quer dizer, mais ou menos, mas não é comum que se grave discos a partir de livros acadêmicos, ainda mais um como Negrophilia, de Patrine Archer-Straw – um livro que trata da fascinação dos parisienses pela cultura negra nos anos 20. Foi essa obra que despertou os neurônios criativos do MC e produtor norte-americano Mike Ladd. E em se tratando dele, não é tão surpreendente que a inspiração tenha partido daí. Se pensarmos bem, é até esperado. Nascido em Cambridge, no estado de Massachusetts, filho da mistura racial (seu pai era branco e sua mãe negra), Mike sempre esteve em contato com o meio acadêmico. Sua mãe era professora universitária e, além de trazer o conhecimento acumulado nesses templos do saber, fazia questão de levar o filho para assistir aos shows de seus amigos e de outros artistas que passavam pela cidade. Tudo isso conquistou o pequeno Mike, que começou a tocar baixo e bateria em algumas bandas da sua cidade. O gosto pela literatura ainda se manifestava nas poesias que escrevia constantemente e pelas quais era muito respeitado – chegando a ter algumas publicadas no protesto literato In Defense of Mumia de 1996. Daí para se tornar um MC foi um pulo. Hoje, Mike é um dos mais inovadores do seu estilo. Suas produções são naturalmente experimentais, transitando entre o hip-hop e o free jazz. Seja em trabalhos solo ou sob a alcunha de Infesticons ou Majesticons, ele vem mostrando que sua música ultrapassou gêneros e agora vive na fronteira do indecifrável. Tornou-se único. Ainda mais com seu peculiar estilo de rimar que às vezes é recitado e interpretado como uma poesia ou fluido como uma rima de festa hip-hop de quintal. Tem algo de não-usual em um livro que inspira um disco, ainda mais um livro tão acadêmico quanto Negrophilia, também título do seu álbum. Você pode explicar um pouco o que te motivou a fazê-lo? O tópico vinha perturbando a minha cabeça há algum tempo, antes mesmo de eu gravar o meu primeiro disco. Mas Patrine Archer-Straw contextualizou essa obsessão com os negros historicamente. Eu senti que lidar com o assunto e ignorar o livro dela seria uma injustiça. E como ela havia feito tão bem, o álbum poderia muito bem se focar nos temas do livro e ser uma exploração real do assunto ao invés de ser apenas alguns recortes esparsos.


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