domingo, 13 de setembro de 2009

The Klaxons - Myths of the Near Future (2007)

A rigor, não existe essa tal de new-rave. Um dos vocalistas do trio londrino Klaxons, Jamie Reynolds, inventou o rótulo numa festa em um club – é possível imagina-lo, bêbado e louco de ecstasy, botando pra fora aquela arrogância juvenil inglesa: "nós somos new-rave!". Hoje, ele nega a criação do rótulo, justamente no momento em que a mídia toda o incorporou ao fantástico mundo do hype (especialmente graças à publicações musicais inglesas como NME e bíblias fashionistas como i-D).
Na linha de frente desse novo exército flúor de sirenes e buzinas, o Klaxons quer remixar não as raves de psy-trance ou qualquer ritmo que tenha ganho popularidade na segunda metade dos anos 90, mas sim o luminoso período em que tanto bandas de rock (Stone Roses, Happy Mondays, etc) quanto DJs/produtores (The Shamen, Paul Oakenfold, Prodigy, Altern-8) dividiram o mesmo comprimido: entre 1988 e 1993. O Klaxons quer representar – e em dados momentos consegue – o desenrolar dessa mítica linhagem pop de praias, drogas e novo-hedonismo.
Embalado a euforia e um sentimento honesto de diversão, Myths of the Near Future ( redesenha os clichês propalados desde os anos 60 num próprio e estranho estilo de música – que você pode chamar de new-rave. A abertura, com "Two receivers", chega climática, tem tudo para ser uma das melhores introduções de disco de 2007. Não é house, não é rock: é britpop sobre batidas eletrônicas e reparos roqueiros. Nessa música, assim como no disco quase inteiro, há sempre os jogos de coros de voz, como se fossem garotos de coral vocalizando de um espaço mitológico, pixelado e operado por joystick.
"Atlantis to Interzone" ganhou uma produção melhor que a do single. Continua berrando suas sirenes paranóicas e linhas de baixo exalando tensão, mas com uma execução mais calibrada. "Golden Skans", atual single do grupo pinçado das primeiras sessões com o produtor James Ford (Simian Mobile Disco), é uma balada doce, num formato pop inegavelmente eficiente. Também já lançadas em singles, "Totem on the Timeline" e "Gravity's Rainbow" trazem um pouco daquela que era a idéia de Reynolds: fazer "dance music" com instrumentos. A primeira, toda orgânica, intercala refrãos e uma linha de baixo sujona; a segunda parece partir desse mesmo baixo para criar um ritmo que vacila como o trincar de dentes de um cocainômano. Mas há, no refrão e nos efeitos, uma paz sintética.
Sem jamais ir fundo na eletrônica mais ortodoxa, os Klaxons entregam a inédita "Forgotten Works", que se alimenta de uma escaleta para enfeitar o cordão hipnótico da canção, flana numa vibração única, quebrada apenas nos refrões. O rockzinho "As Above, So Below" só poderia ser feito por um roqueiro descontente. Depois de uma seqüência de sons que gravitam na vontade de se fazer dance, um paredão de guitarras irrompe, espanta, e tudo volta colorido e extravagante. "Isle of Her" é conduzia por um escoamento robótico e paranóico. Cantada em coro, fica a impressão de estarem sobre uma esteira elétrica, sendo encaminhados a algum tipo de experimento.
E Myths of the Near Future é o próprio experimento. Ainda que todas as canções possam, umas em maior grau, outras em menor grau, ser associadas ao período clássico das raves, os Klaxons criaram muito mais um rock de rua, streetware. E há quanto tempo você não ouvia um rock com cheiro de rua?
Hype por hype, a cultura pop é feita de promoções desde que Elvis rebolou as ancas. Myths of the Near Future é a fotografia marco zero desse momento e ninguém disse que ele será eterno.

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