Em Nashville, capital mundial do country, os amigos de infância Kurt Wagner (vocais), Jim Watkins (guitarra) e Marc Trovillion (baixo) se juntaram para tocar sob o nome de Posterchild, gravando uma série de músicas dentro dos quartos de Wagner e Trovillion. Enquanto lançavam cassetes caseiros de nomes esquisitos (como Secret Secret Sourpuss e I’m Fucking Up Your Daughter), viam entrar gradativamente muitos novos músicos (entre eles, o clarinetista Jonathan Marx e a steel guitar de Paul Niehaus e o multi-instrumentista Scott Chase) e aumentar a demanda de shows na região de Nashville. No final de 1992, trocaram o nome (Lambchop foi a escolha, entre opções como Pinnacles Of Cream, REN e Turd Goes Back) e assinaram contrato para um single pela recém-criada iniciativa independente Merge, de propriedade de dois integrantes do grupo Superchunk. Desde então, o selo cresceu, assim como vieram os primeiros álbuns e outros lançamentos em formatos alternativos. Enquanto o mercado mainstream passou a namorar o hip hop, o r&b e as cantoras pop, o combo construiu uma sólida imagem cult, passando a ser venerada pelo público que ignora as paradas em favor dos bons sons. Tudo com uma estilosa mistura de jazz, rock, pop, country e soul, de letras refinadas. O ponto alto da carreira do Lambchop ocorreu na virada da década. O álbum Nixon – o quinto da carreira – recebeu elogios de quase todas as publicações especialidades (fossem elas mainstream ou underground) e até chegou a integrar as listas dos melhores lançamentos de 2000. No ano seguinte, respaldado pelo sucesso, o grupo reuniu diversas raridades (remixes, gravações ao vivo, faixas exclusivas de singles e EPs mais gravações toscas dos tempos de Posterchild) na coletânea Tools In The Dryer. Em 2002, Wagner voltou a emocionar com várias letras confessionais (alusões à morte, romances turbulentos, solidão) do novo disco de inéditas, Is A Woman. Aproveitando a vinda ao Tim Festival do numeroso grupo (que já chegou a ter até 14 integrantes em cima do palco), a gravadora Trama, detentora dos direitos da Merge no Brasil, colocou no mercado o celebradíssimo Nixon. Como Tools In The Dryer e Is A Woman já estavam disponíveis em edição nacional há alguns meses, eis uma geral destes três últimos álbuns do Lambchop. Nixon (2000)O encarte traz a sugestão de leitura de quatro livros relacionados ao escândalo Watergate. O nome do álbum aparece grafado em letras garrafais na capa. O disco tem Richard Nixon – presidente americano que, por estar envolvido em um grande esquema de corrupção, acabou renunciando ao cargo nos anos 70 – como inspiração máxima, embora nenhum verso faça referência direta a ele. Entre as dez faixas, aquela mistura jazz-soul-country-rock característica do Lambchop, com direito ainda a acordes diminutos e acompanhamento da Orquestra de Cordas de Nashville. Os arranjos refinados, repletos de violinos, violoncelos e vibrafones acentuam o direcionamento Philadelphia soul de faixas como “You Masculine You”, “What Else Could It Be? (em ambas Wagner surpreende ao soltar falsetes estridentes), “Nashville Parent” e “Grumpus”. O vocalista ainda arrisca uma “parceria” com o soulman Curtis Mayfield em “The Book I Haven’t Read”. O álbum se encerra um arrepiante conto de terror (“The Butcher Boy”) transformado em três contagiantes minutos de explosiva combustão soul-rock, com naipe de metais duelando com guitarras dedilhadas e tambores frenéticos.
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