"O primeiro álbum de uma banda que você sempre gostou". Foi mais ou menos dessa forma que o Foo Fighters foi apresentado ao mundo pouco mais de um ano depois do Nirvana ter acabado. Sob o comando do ex-baterista Dave Grohl, o Foo Fighters era a banda que ainda não tinha nenhum disco, mas que todo mundo amava. A história se repete, mais de dez anos depois, agora com o Raconteurs. Sem nem ter uma música gravada, a banda foi apontada como filhote do Nirvana.
Mais: o semanário britânico New Musical Express ousou cravar: "Vem aí o novo Nirvana. Não só novo, mas melhor que o Nirvana". O interessante é que não havia nenhum membro do trio de Seattle envolvido com o projeto, e sim quatro heróis da classe independente do rock americano: o conhecido Jack White, o semiconhecido Brendan Benson e os desconhecidos Jack Lawrence (baixo) e Patrick Keeler (bateria), da ótima banda Greenhornes. Com dois álbuns e um EP, essa banda de Cincinatti chamou a atenção de Brendan Benson, que produziu algumas canções do grupo, e que estão na coletânea Sewed Soles, estréia do Greenhornes no selo V2, casa do White Stripes e do Raconteurs.
Bem, se nenhum membro da banda tem alguma ligação com o Nirvana, de onde saiu a comparação? Provavelmente de algum rascunho da canção Steady, As She Goes, primeiro single do Raconteurs, que foi lançado no começo de 2006 apenas em vinil. Steady, As She Goes é a canção mais Nirvana que surgiu nos últimos anos, amparada no bate-assopra tão característico das composições de Kurt Cobain. A comparação é inevitável, mas não dá a mínima idéia do que representa Broken Boy Soldier, primeiro álbum do Raconteurs. Broken Boy Soldier é, na verdade, o mais perto que o guitar hero Jack White vai chegar de Led Zeppelin.
Após cinco álbuns lançados com a marca White Stripes (dois deles com mais de 1 milhão de cópias vendidas), Jack decidiu dar uma folga para a irmã Meg resolvendo expurgar todos os demônios da paixão que sente pela banda de Robert Plant e Jimmy Page. Segundo Jack White, o Raconteurs não é só um projeto, mas sim uma banda séria mesmo, dessas que vai lançar discos todos os anos, fazer turnê e tal. Não, o White Stripes não acabou. Jack quer seguir de agora em diante com as duas bandas. Como ele vai conciliar as agendas é algo a se perguntar.
Porém, se o White Stripes pode ser encarado com a antítese do rock metalizado idealizado pelo Led Zeppelin (uma banda sem baixista e com uma baterista que "não sabe" tocar bateria), indo na via contrária dos mestres ao fazer algo meio punk, meio garageiro, cuja sujeira/tosqueira reina em meio a solos de blues, rock e vocais esganiçados, o Raconteurs pega carona no zepelim de chumbo, com um dedinho de diferença: Brendan Benson.
Benson é músico e compositor. Tinha, até então, uma carreira solo com três álbuns de respeito, sendo que o mais recente, The Alternative To Love (2005), ganhou edição nacional e é uma beleza inspirada em Badfinger, Big Star, Gram Parsons e no Paul McCartney em início de carreira solo. Tanto Jack White quanto Brendan Benson são de Detroit, e não demorou para que a amizade se transformasse em colaboração. O projeto, que tinha tudo para ser uma brincadeira, acabou tomando forma de superbanda. Benson recrutou Jack Lawrence e Patrick Keeler (ele havia produzido um dos álbuns do Greenhornes) e o grupo começou a ensaiar um repertório para uma nova banda: Raconteurs, palavra francesa que quer dizer algo como contador de histórias.
Se Jack White sempre foi apaixonado pelo Led Zeppelin e Brendan Benson é um moleque do começo dos anos setenta vivendo em 2006, daria para dizer, canhestramente, que o nascimento do Raconteurs seria algo como se o Led Zeppelin chamasse Paul McCartney para uma parceria em plenos anos 70. Parece exagerado, mas transposto para 2006, o resultado desse encontro pode ser ouvido em Broken Boy Soldier, um disco inspirado que têm tudo para colocar o rock na ordem do dia das paradas e rádios norte-americanas, cravar ao menos três singles, e fazer do White Stripes a banda reserva de Jack White.
Do começo, como a nirvanesca Steady, As She Goes, passando pela zeppeliniana faixa título, pela belíssima balada setentista Together até o poderoso blues Blue Vein, que fecha o disco, com riff de guitarra acompanhando a melodia vocal, Broken Boy Soldier é o mais próximo que o rock'n'roll chegou do Led Zeppelin desde que Page e Plant deram um fim ao grupo.
Porém, para todos aqueles que viveram os anos setenta, o Zeppelin renascido nos riffs de Jack White é uma banda afetada pelo teor pop de Brendan Benson, sendo que ambos sofreram influências do punk (os dois cresceram na cidade de uma bandas proto-punks mais importantes de todos os tempos: o MC5) e do grunge. Broken Boy Soldier é, mais do que qualquer coisa, um álbum que marca o encontro do Led Zeppelin com o Nirvana. É algo novo, mas velho também, entende?
Consoler Of The Lonely (2008)
Broken Boy Soldiers (2006)
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