domingo, 10 de janeiro de 2010

Raconteurs

A essa altura, o mundo todo já ouviu Broken Boy Soldier, primeiro álbum do Raconteurs, que teve lançamento nos Estados Unidos em maio de 2006, bateu na sétima posição da Billboard após vender 61 mil cópias em uma semana (um feito para uma banda "novata"), e que chegou no Brasil pela Sum Records após circular por programas de troca de MP3 e blogs desde janeiro de 2006.

"O primeiro álbum de uma banda que você sempre gostou". Foi mais ou menos dessa forma que o Foo Fighters foi apresentado ao mundo pouco mais de um ano depois do Nirvana ter acabado. Sob o comando do ex-baterista Dave Grohl, o Foo Fighters era a banda que ainda não tinha nenhum disco, mas que todo mundo amava. A história se repete, mais de dez anos depois, agora com o Raconteurs. Sem nem ter uma música gravada, a banda foi apontada como filhote do Nirvana.
Mais: o semanário britânico New Musical Express ousou cravar: "Vem aí o novo Nirvana. Não só novo, mas melhor que o Nirvana". O interessante é que não havia nenhum membro do trio de Seattle envolvido com o projeto, e sim quatro heróis da classe independente do rock americano: o conhecido Jack White, o semiconhecido Brendan Benson e os desconhecidos Jack Lawrence (baixo) e Patrick Keeler (bateria), da ótima banda Greenhornes. Com dois álbuns e um EP, essa banda de Cincinatti chamou a atenção de Brendan Benson, que produziu algumas canções do grupo, e que estão na coletânea Sewed Soles, estréia do Greenhornes no selo V2, casa do White Stripes e do Raconteurs.
Bem, se nenhum membro da banda tem alguma ligação com o Nirvana, de onde saiu a comparação? Provavelmente de algum rascunho da canção Steady, As She Goes, primeiro single do Raconteurs, que foi lançado no começo de 2006 apenas em vinil. Steady, As She Goes é a canção mais Nirvana que surgiu nos últimos anos, amparada no bate-assopra tão característico das composições de Kurt Cobain. A comparação é inevitável, mas não dá a mínima idéia do que representa Broken Boy Soldier, primeiro álbum do Raconteurs. Broken Boy Soldier é, na verdade, o mais perto que o guitar hero Jack White vai chegar de Led Zeppelin.
Após cinco álbuns lançados com a marca White Stripes (dois deles com mais de 1 milhão de cópias vendidas), Jack decidiu dar uma folga para a irmã Meg resolvendo expurgar todos os demônios da paixão que sente pela banda de Robert Plant e Jimmy Page. Segundo Jack White, o Raconteurs não é só um projeto, mas sim uma banda séria mesmo, dessas que vai lançar discos todos os anos, fazer turnê e tal. Não, o White Stripes não acabou. Jack quer seguir de agora em diante com as duas bandas. Como ele vai conciliar as agendas é algo a se perguntar.
Porém, se o White Stripes pode ser encarado com a antítese do rock metalizado idealizado pelo Led Zeppelin (uma banda sem baixista e com uma baterista que "não sabe" tocar bateria), indo na via contrária dos mestres ao fazer algo meio punk, meio garageiro, cuja sujeira/tosqueira reina em meio a solos de blues, rock e vocais esganiçados, o Raconteurs pega carona no zepelim de chumbo, com um dedinho de diferença: Brendan Benson.
Benson é músico e compositor. Tinha, até então, uma carreira solo com três álbuns de respeito, sendo que o mais recente, The Alternative To Love (2005), ganhou edição nacional e é uma beleza inspirada em Badfinger, Big Star, Gram Parsons e no Paul McCartney em início de carreira solo. Tanto Jack White quanto Brendan Benson são de Detroit, e não demorou para que a amizade se transformasse em colaboração. O projeto, que tinha tudo para ser uma brincadeira, acabou tomando forma de superbanda. Benson recrutou Jack Lawrence e Patrick Keeler (ele havia produzido um dos álbuns do Greenhornes) e o grupo começou a ensaiar um repertório para uma nova banda: Raconteurs, palavra francesa que quer dizer algo como contador de histórias.
Se Jack White sempre foi apaixonado pelo Led Zeppelin e Brendan Benson é um moleque do começo dos anos setenta vivendo em 2006, daria para dizer, canhestramente, que o nascimento do Raconteurs seria algo como se o Led Zeppelin chamasse Paul McCartney para uma parceria em plenos anos 70. Parece exagerado, mas transposto para 2006, o resultado desse encontro pode ser ouvido em Broken Boy Soldier, um disco inspirado que têm tudo para colocar o rock na ordem do dia das paradas e rádios norte-americanas, cravar ao menos três singles, e fazer do White Stripes a banda reserva de Jack White.
Do começo, como a nirvanesca Steady, As She Goes, passando pela zeppeliniana faixa título, pela belíssima balada setentista Together até o poderoso blues Blue Vein, que fecha o disco, com riff de guitarra acompanhando a melodia vocal, Broken Boy Soldier é o mais próximo que o rock'n'roll chegou do Led Zeppelin desde que Page e Plant deram um fim ao grupo.
Porém, para todos aqueles que viveram os anos setenta, o Zeppelin renascido nos riffs de Jack White é uma banda afetada pelo teor pop de Brendan Benson, sendo que ambos sofreram influências do punk (os dois cresceram na cidade de uma bandas proto-punks mais importantes de todos os tempos: o MC5) e do grunge. Broken Boy Soldier é, mais do que qualquer coisa, um álbum que marca o encontro do Led Zeppelin com o Nirvana. É algo novo, mas velho também, entende?


Consoler Of The Lonely (2008)


Broken Boy Soldiers (2006)




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