domingo, 30 de janeiro de 2011

Brandon Flowers - Flamingo (2010)

Quando o primeiro disco solo de Brandon Flowers estreiou e logo estava nos primeiros lugares nas paradas. Isso não foi surpresa para ninguém que acompanhou a divulgação maciça que o vocalista vinha fazendo de “Flamingo”, antes mesmo dele estar pronto. Apesar de ser interessante mais por ser a primeira incursão de um Killer pela solitária carreira sem o grupo do que por sua música em si, certo mesmo é que este trabalho começou a ser criado já com a certeza de sucesso, mesmo que para isso muitos fãs da era Sam’s town tenham que sair frustrados com isso.
Flowers é um paradoxo ambulante. Chama a atenção pela estranheza que as palavras mórmom e rockstar causam quando colocadas juntas associadas a sua figura. Ao mesmo tempo, em certos momentos aparenta ser apenas um bom pai de família que alcançou o estrelato meio sem querer e por isso parece fora de seu habitat natural. Ele também começou a trabalhar em “Flamingo” com a desculpa de ser viciado em trabalho; já que seus companheiros de banda queriam descansar após turnês e discos quase consecutivos, ele tinha a necessidade de continuar na labuta, mas o que aconteceria por uma mera aversão ao ócio parece ser mais baseado na necessidade de estar embaixo dos holofotes.
Musicalmente falando, “Flamingo” não é um disco ruim. Na verdade, é repleto de hits em potencial. Já de saída “Welcome to Las Vegas” é uma ode à Sin City que tenta romantizar a cidade e colocá-la no imaginário de uma nova geração da mesma forma que um dia Bruce Springsteen fez com Nova Jersey. Pensando na forma como esse cd foi trabalhado junto com o produtor Stuart Price, a lembrança Springsteeana que ecoa na primeira faixa não parece mera coincidência. The Boss sempre foi um dos maiores ídolos de Flowers e a vontade de seguir os passos de ídolos como ele e Morrissey é algo que o discípulo nunca fez muita questão de esconder.
“Crossfire”, primeiro single com direito a clipe hollywoodiano com Charlize Theron, deixa um pouco a desejar. Demora para se tornar minimamente memorável uma vez que soa como os piores momentos do esquecível Day and Age. Já o dueto com Jenny Lewis em “Hard Enough” funciona, simplesmente. Os melhores pontos de “Flamingo” são justamente aqueles em que Brandon não se leva tão a sério, como se entrasse no cassino pronto para perder tudo e sair feliz da vida, como nas faixas “Jilted lovers and broken hearts” e na adorável “Was it something I Said?”, que comprovam que Flowers costuma ser o melhor dessa nova geração quando chega a hora de beber na fonte dos pop anos 80.
No fim de sua primeira tentativa solo, Brandon acaba se saindo melhor do que o esperado. Para quem ficou frustrado com “Flamingo”, resta torcer que o vocalista tenha exorcizado seus desejos narcisistas e esteja pronto para seguir pelo rumo certo junto com o The Killers.




sábado, 29 de janeiro de 2011

White Lies - Ritual (2011)

A carreira do White Lies está seguindo exatamente o caminho planejado, e acredite, esse caminho foi planejado com muito empenho. Nomes, letras, capas, tudo faz parte de uma identidade construída com método. Se, após a morte de Ian Curtis, o restante do Joy Division formou o New Order com os fundamentos do Synth-pop, o White Lies, como banda discípula, também abraçou os sintetizadores, em Ritual, seu segundo álbum.
A primeira metade do álbum contém todas as canções memoráveis, indicando que o trabalho poderia ser um mero EP inflado. As duas melhores faixas são as que ostentam os melhores refrões, Bigger Than Us e Strangers, emotivas, sinais de vida em uma banda que faz questão de parecer morta. As oitentistas Is Love? e Peace & Quiet miram no Depeche Mode mas vão do Alphaville ao Duran Duran.
A segunda metade é esquecível, exceto pela interessante Come Down. The Power and The Glory simboliza tudo o que há de errado em Ritual, indo do sinistro ao dançante de maneira fria e planejada. Talvez esse Ritual do título foi o que fez o White Lies perder a alma. Ou ela nunca esteve presente.





terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Liars - Sisterworld (2010)

Novembro de 2000, Nova Iorque. Pat Noecker (baixista) e Ron Albertson (baterista), naturais do Nebraska põem um anúncio à procura de dois músicos. Angus Andrew (vocalista, natural da Austrália), e Aaron Hemphill (guitarrista, de Los Angeles) respondem ao apelo e os Liars tomaram forma. Juntaram dinheiro, fizeram as malas, e partiram em busca do sucesso pelos Estados Unidos, actuando sempre e onde podiam.
A oportunidade para assinar um contrato com a editora Gern Blandsten surgiu no derradeiro concerto do grupo antes do regresso a casa. Sem grandes hesitações, e condicionados apenas a dois dias de utilização de estúdio, os Liars gravaram “They Threw Us All In a Trench and Stuck a Monument on Top” ainda em 2001.
Meses depois, a banda abandona a Blandsten e transita para o catálogo da editora Mute que decide relançar o albúm em Agosto de 2002. No ano do seu lançamento, o albúm foi recebido pela crítica como um dos mais excitantes lançamentos discográficos do ano.
Em Outubro de 2002 os Liars lançaram um novo registo, o EP “Fins to Makes Us Look More Fish Like”, em jeito de antecipação a um novo longa duração.
O som dos Liars é dificil de rotular. Têm como base o punk rock, mas a utilização de teclados electrónicos, sintetizadores e uma voz distorcida, criam um som surpreendente que pode ser facilmente relacionado com as bandas do Reino Unido do fim dos anos 70, início dos anos 80. A Certain Ratio, Gang of Four ou The Slits são referências incontornáveis





Two Door Cinema Clube - Tourist History (2010)

Essa banda já estava nos meus planos há tempos para fazer um post, mas ainda não tinha feito porque queria caprichar. Considero o melhor lançamento do ano, até agora, claro. 
O Two Door Cinema Clube vem da Irlanda do Norte, mesma terra do The Undertones, do Ash, do The Divine Comedy e do Snow Patrol (apesar de esta última banda de ter sido formada na Escócia). Seus membros decidiram não fazer faculdade e entrar de cabeça no mundo da música. Um fato curioso: nenhum deles é baterista, o que os levou a experimentar batidas eletrônicas no Mac de um deles. Essa mescla, na medida certa, de sonoridades eletrônicas com a já consagrada levada indie chamou a atenção do selo francês Kitsuné, que assinou com os caras quando ainda possuíam apenas umas 5 canções. A primeira música lançada foi “Something Good Can Work”, que rodou as casas norturna da Inglaterra e caiu nas graças de vários DJs conhecidos da região, como Steve Lamacq.
Desde então lançaram os singles “Undercover Martyn” e I Can Talk”, tão boas que disponibilizarei ambas aqui para vocês. As duas fazem parte do disco de estréia “Tourist History”, cujas faixas nunca me cansarei de recomendar. Na minha opinião, é a nova banda que ouvirei todo mundo cantando de cor quando botá-la para tocar nas baladas, como aconteceu com o Phoenix, ano passado.


Gorillaz - Plastic Beach (2010)

Sinceramente? Damon Albarn e Jamie Hewlett podem ser considerados como dois dos maiores gênios dessa era. Não que alimentar uma banda virtual seja novidade, até por que desde os anos 60, bandas fictícias eram formadas por personagens de desenhos, mas acredito que tenha sido com o Gorillaz que o conceito de “brincar” com essa forma de entretenimento, tenha alcançado seu status mais elevado.
Apesar de Plastic Beach, terceiro álbum do Gorillaz (exclua por favor os remixes e b-sides da vida) não beber dessa mesma fonte de genialidade, ele está longe de passar desapercebido e pode, sim, conter algumas das músicas que estarão entre as mais ouvidas em seu iTunes. E olha que o disco só esquenta após sua segunda metade…
Isso mesmo. Entre as 10 primeiras músicas – de um total de 18 – somente Stylo (a primeira música de trabalho, que conta com Mos Def e Bruce Willis no clipe) é digna de referência. Mas tão certo quanto isso pode parecer contraditório, é o fato de, à partir de On Melancholy Hill, Plastic Beach soar um álbum indispensável. E há quem diga que já se trata de um dos maiores do ano. E se eu questionasse isso, não estaria escrevendo esse artigo, mesmo que tardiamente.

Plastic Beach, faíxa título e que tem a participação mais que especial de Mick Jones, é outra que traz vida nova ao estilo do grupo. Cloud of Unknowing e Pirate Jet são de beleza ímpar, e Three Hearts, Seven Seas, Twelve Moons, faixa bônus da edição de luxo, fecha o álbum de forma majestosa.
E as influências hip hop, eletrônica e dub que fizeram do Gorillaz uma banda declaradamente pertencente ao gênero trip rock estão lá, mas a essência do projeto mudou um pouco e este é um album que pode ser classificado como conceitual. À princípio, até parece difícil de ouvir, mas depois, soa como único e sensacional.
Se você já o ouviu e torceu o nariz (ou a orelha), recomendo que dê uma nova chance a esse duo. Se ainda não o fez, recomendo que corra para esse mundo de texturas sonoras, referências de estilos e imagens que fazem do Gorillaz a banda virtual mais legal que já existiu. 




Janelle Monáe - The ArchAndroid (2010)


Lembro do dia em que meu pai me apresentou a um disco dos Beatles. Era Rubber soul.
Já na metade do lado B — em Wait ou If I needed someone —, ele deslizou a agulha do vinil, interrompeu zunido da vitrola e ficamos ali, nós dois, em silêncio. Um menino de oito anos e um homenzarrão de trinta. Ele queria fazer uma pergunta séria, mas meu pai é (e sempre foi) uma pessoa que hesita antes de tomar qualquer atitude. Ele hesita. E é o que ele faz.
“Você percebe alguma coisa diferente neste disco?”, meu pai perguntou (e, já naquela época, eu sabia quando ele estava se esforçando para soar adulto. Era um desses momentos).
E eu, ainda transtornado pela experiência (e um pouco entediado: oito anos!), pensei em duas respostas idiotas. Logo em seguida, desisti de ficar tentando.
“Não percebo, pai. Quer dizer, percebo alguma coisa diferente. Mas não entendo”, e ainda cogitei acrescentar um “sou apenas um menininho babaca de oito anos, não me ensinaram o bê-a-bá da música pop, passo as tardes jogando Atari e lendo Pato Donald”, mas seria um golpe baixo. Meu pai queria queria me tratar de igual para igual e eu estava tentando me adequar à encenação. Próximos capítulos: trocaríamos ofensas sobre o jogo de futebol e conversa fiada sobre as coxas da empregada.
“Repare bem, filhão: este disco tem tudo o que você precisa saber sobre música. Tudo. Tudinho dentro de um disco. A primeira música é diferente da segunda, que é diferente da terceira. Uma coisa incrível! E aí você se pergunta: mas como essa banda conseguiu incluir to-das as invenções mais loucas do mundo dentro de um só disco? Foi o que aconteceu, Tiago: eles inventaram tudo, e fizeram tudo. Não é maravilhoso?”
Com o passar do tempo, me senti obrigado a concordar com aquele raciocínio meio inacabado, cheio de arestas: os Beatles são os Beatles e, de fato, eles inventaram um bocado de coisas.
Mas o que me intrigou (e acredito que meu pai foi o primeiro a atiçar essa enorme angústia) foi notar que, na média, a música pop se comportava exatamente como um contraponto àquele disco extraordinário que ouvi aos oito anos: em vez de surpresas e reinvenções, a maior parte dos álbuns que eu ouvia soava previsível, limitada, tão medrosa e hesitante quanto o meu pai.
Se os Beatles são o Grande Exemplo de uma banda bem-sucedida, por que as bandas não pareciam entender que, entre uma e outra faixa de um disco como Rubber soul, mora a filosofia da aventura, do risco, da ousadia, de rejeitar o conforto e tentar tudo (às vezes, tudo ao mesmo tempo)? Por que elas, as bandas, pareciam subestimar as possibilidades do pop?
O que deu errado?
Sem querer forçar comparações absurdas (mas já forçando!), o primeiro disco de Janelle Monáe soa como se tivesse sido criado por uma menininha que, sem contato com os produtos mais mecânicos do pop, ouviu um disco dos Beatles (ou do Frank Zappa, ou do Love, ou uma ópera-rock do The Who) e decidiu escrever algumas canções. Nos 68 minutos de duração, a palavra que quica é liberdade.
E é assustador perceber que, em 2010 (o ano em que faríamos contato!), esse disco aventureiro acaba soando como um filho único. Um caso excêntrico. Uma anomalia.
Os críticos se espantam com a variedade de gêneros musicais e comparam o álbum a outros “patinhos feios”, tão raros se transformaram em referências de “creative writing”: The love below, do Outkast, Sign o’ the times, do Prince, Odelay, do Beck (eu incluiria nessa lista Hello nasty, do Beastie Boys, ainda que o disquinho tenha sido penalizado pelo tempo). O que deveria ser norma — faça o que você quiser, como John ensinou! — passa como exceção. Infelizmente.
Mas The ArchAndroid está aí para nos lembrar que o pop é um país mais vasto do que a sala de estar do Timbaland (ou o umbigo de Kanye West).
A narrativa nos engana a cada dobra de página. Começa com arranjos de orquestra à High Llamas (uma cama de melodias sessentistas pós-Smile) e vai se adequando a alguns padrões do hip-hop mais radiofônico (Dance or die é um hit até bem genérico), entrando e saindo dos trilhos de um típico álbum de musa-soul-que-curte-indie-rock.
O alcance é tão largo (de rhythm and blues a folk britânico, Janelle vai experimentando uma dezena de nichos e combinações improváveis) que ele às vezes soa como um “book fotográfico” muito pomposo, uma maratona sem fim. Nas primeiras audições, fiquei um pouco desconfiado: o excesso de referências não seria uma forma de desviar nossa atenção para o fato de que as canções não são exatamente extraordinárias?
Sim e não. Honestamente: faixas como Locked inside (num clima tropical, alegrinho) e Wondaland (mais doce que um pote de pasta de amendoim) soariam quase gratuitas num disco da Santigold ou até da Madonna. Mas a graça está na forma como Janelle vai organizando e desorganizando essas faixas, num fluxo louco de informações que acaba por nos desorientar.
É simplesmente incompreensível, por exemplo, a inclusão de uma faixa como Make the bus, que é uma música do Of Montreal, interpretada pelo Of Montreal e que poderia estar em qualquer disco do Of Montreal. Divertida, mas o que ela faz num álbum conceitual inspirado em ideias do afrofuturismo que narra a saga de um androide messiânico?
(O lançamento recente que mais se aproxima deste, em aflição e atitude, é Hidden, do These New Puritans. Acredite)
E o desfecho do disco, que vai se desintegrando nas sombras de um filme noir? Não combina coisa nenhuma com um batidão como Cold war (puro Gnarls Barkley) ou com o romantismo cool de Say you’ll go. São três, quatro, cinco álbuns sacados das paradas de sucessos e convertidos num único Frankenstein.
Entendo por que Janelle vive repetindo a palavra ‘schizo’. Esquizofrenia pop é o rótulo mais adequado.
Depois da quinta audição, e recomendo que você continue tentando!, o álbum me parece muito mais coeso do que eu imaginava. As peças se encaixam graciosamente e o que se destaca é uma voz curiosa, mutante. Um olhar. Se este disco deve ser encarado como um cartão de visitas, ele diz o seguinte: não vou chegar a lugar algum e esta é a graça.
Meu pai entenderia. Eu ainda estou me sentindo como um menininho de oito anos.




Here We Go Magic - Pigeons (2010)

Formada como uma banda de um homem só pelo multi-instrumentista Luke Temple(que lançou seu primeiro lp em 2009), agora a formação do HERE WE GO MAGIC conta mais quatro integrantes que mantém a qualidade sonora do grupo num álbum que sabe mesclar muito bem o pop e climas psicodélicos.




JJ - nº 3 (2010)

Com a aprovação da minha paixão, vou postar esta banda. Já faz algum tempo que não aparecem por aqui bandas suecas(já comentei algumas vezes como é interessante o cenário indie/pop do país mais conhecido como pátria do quarteto ABBA). Para suprir essa lacuna hoje surge o segundo álbum da enigmática dupla JJ, com o singelo título de nº 3. Quando o primeiro Lp deles surgiu no ano passado(intitulado JJ nº2) logo os sites e blogs começaram a rasgar elogios ao som que combinava uma mistura de twee-pop e eletrônica para criar canções que soam, muitas vezes, como frias e inacessíveis por fugirem do lugar comum da maioria das bandas atuais. Na verdade muitos dos que gostam de sonoridades mais grudentas correm sério risco de deixar passar esse interessante álbum. Escute Voi Parlate, Io Gioco.





domingo, 23 de janeiro de 2011

Get Well Soon - Vexations (2010)

Caso eu fosse preguiçoso e não gostasse de escrever sobre música, eu diria concisamente e rapidamente aqui: Get Well Soon é o Ramona Falls de 2010. As similaridades de tal fato viriam nas constatações que são bandas de um homem só e bastante ecléticas em suas sonoridades. O Ramona Falls era Brett Knopf, no GWS é o alemão Konstantin Gropper. Outra constatação: são projetos sem muito apoio da mídia (mesmo em tempos com tantos blogs pela internet), poucos textos a respeito e que tendem a se transformar em discos do ano – mesmo com um desconhecimento covarde.
Gropper não é marinheiro de primeira viagem. Já fez trilha sonora para filmes de Win Wenders, e isso já é uma bagagem de respeito e tanto. É ou não é? Também não é apenas isso. Quem, em tempos de tanta banda aparecendo a cada segundo, numa época onde discos curtos tornam-se fundamentais, ainda consegue fazer um disco de 14 músicas (e praticamente 60 minutos) ser instigante e valer até o último acorde? A resposta está aqui, e chama-se ‘Vexations’.

Eu sou uma pessoa que gosta de decifrar enigmas, e chamaria esse álbum de um caleidoscópio montado a partir de várias bandas (e não é exagero). ‘5 Steps/7 Words’ tem um quê da melhor fase do Beirut com sopros em demasia, ‘That Love’ e ‘A Burial At Sea’ remetem a algo da melancolia dos Tindersticks (claro, sem a voz do crooner Stuart Staples, e sim com a voz também imponente de Konstantin), e tudo bem se você pensar até em Radiohead na antítese calma/explosão de ‘Aureate!’. ‘Nausea’ brinca com o ouvinte fazendo ele pensar que a música seja de algum disco do The Divine Comedy.
Violinos se mesclam a canções ricas de arranjos (sem perder o charme pop-rock do passado) e trazem petardos como ‘Werner Herzog Get Shot’. Os refrões são pegajosos, sem caírem na ingenuidade, e vem carregados de emoção e com belos coros (para gritar e se cantar junto), tome por exemplo ‘We Are Free’ e ‘We Are Ghosts’. Candidatas a hits do ano aparecem, comprove ouvindo ‘Seneca’s Silence’ e ‘Angry Young Man’.
Um disco onde citar uma preferida entre 14 jóias é uma missão ingrata e impossível. E confesso, há muito tempo (muito mesmo) que não me chateio por ouvir um disco tão extenso, não faço questão de perder uma hora de minha vida. Perder? Na verdade, ganhei. Em forma de um sorriso na cara, agradeço sempre por aparecimento de músicos como Konstantin Gropper.



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Arcade Fire - Suburbs (2010)

Passei este fim de semana ouvindo (e pensando na minha futura namorada !) The suburbs, o terceiro disco do Arcade Fire.
Desconfio que seja um álbum poderosíssimo para meninos e meninas melancólicos. Perigoso, até (como O apanhador no campo de centeio é, sim, um perigo, estive lá!). Eu, que já estou noutra (e hoje sou um adulto quase seguro de mim mesmo, quase saudável, pronto para ter um filho e mudar o mundo), o admiro como uma obra sobre um período, sobre uma fase da vida, um disco que consegue se aproximar dos sentimentos de quem cresce trancafiado em quadras silenciosas (no caso mais específico do disco, em subúrbios confortáveis, organizados e medonhos).
Os personagens têm tudo e não têm nada, têm tudo e ainda não sabem o que querem, têm todo o silêncio do mundo à disposição. E não se movem (apesar do desejo intenso, quase louco, por movimento, por ruptura, por uma vida diferente). “Nós costumávamos esperar por um tempo que nunca chegou”, resume Win Butler, nosso narrador-protagonista, amargo e desiludido e olhando para o teto.
No álbum de estreia do Arcade Fire, Funeral, de 2004, a morte acendia e apagava as luzes da vizinhança – era a ameaça que varria o cotidiano, e ela estava lá. Neon bible, de 2007, era uma viagem a um mundo de pesadelos (e de goth rock oitentista, meio maçante e tedioso). Menos surreal, The suburbs soa como uma continuação dos temas de Funeral, mas com uma diferença cruel: em Funeral, a tristeza era provocada pela perda de pessoas queridas. Em The suburbs, o desespero aparece com a dificuldade de seguir com a vida, de escolher um futuro, de pegar as chaves do carro e sair.
“Quando as primeiras bombas caíram, nós já estávamos entediados”, explica Butler, na faixa-título (que praticamente resume o universo do disco). E continua: “Os meninos querem ser durões. Mas nos sonhos estamos ainda gritando.” E continua: “Todos os muros que eles construíram nos anos 70 finalmente caíram. Eles não significaram absolutamente nada.”
E (que pancada!) é só o começo de um álbum que vai à estratosfera sem sair do quarto.
Butler é dos nossos: acompanha os personagens com a autoridade de quem viveu sensações parecidas (e quem não viveu?). Desde a primeira música, estamos com ele. Não há movimentos em falso. Desta vez, o Arcade Fire nos ganha por uma questão de cumplicidade. A banda está do nosso lado (está no nosso mundo) mesmo antes de decidirmos se queremos ou não acompanhá-la. Butler canta para a própria geração, para os meninos e meninas da América (e do Canadá, e da minha quadra silenciosa). Canta para uma multidão que provavelmente retribuirá em estádios lotados e com olhos cheios de lágrima.
É esse tipo de disco.
E o que ainda me impressiona (e já ouvi o álbum mais de uma dezena de vezes) é como esse laço que a banda cria com o público acaba por anular quase todas as fraquezas do disco. E (como não?) há fraquezas. É um álbum excessivamente longo, para começo de conversa. Que deixa a impressão de que três ou quatro faixas poderiam ter virado lados B de singles. É um álbum musicalmente conservador – que, no máximo, arrisca alguma combinação de Bruce Springsteen com Brian Eno e David Bowie fase Low (e quem fez isso recentemente? Quem? Quem? Cold-o-quê?). É uma dessas óperas-rock que não vão longe demais.
(Aliás, é curioso que Butler tenha falado nos “muros dos anos 70″, já que este disco inteiro parece criado com tijolinhos do rock dos anos 70, do punk de Month of may ao prog de Suburban wars ao soft rock de Modern man ao stadium rock de City with no children e ao clima new-wave de Mountains beyond mountains, que é quase uma versão lo-fi de Heart of glass).
Mas, é claro, é um disco que quer conquistar o mundo. E, hoje em dia, quantos discos querem conquistar o mundo? Não que isso seja mérito (e revistas como a Rolling Stone vão tentar convencê-los de que é sim um mérito). Eu mesmo prefiro os discos que não querem conquistar o mundo (ou que desprezam essa ambição muito ultrapassada, tão mid-eighties). The suburbs é Joshua Tree, é Born to run, é Use your illusion, é (sim, engulam) Viva la vida e é todos esses álbuns-monumentos family-size, grandes demais para nossos mundinhos. Estátuas de pedra, entertainment, quase autoparódia.
O fator-estranheza, no caso de The suburbs, é que esse porte épico parece contradizer um discurso introspectivo. Os hinos do Arcade Fire são frágeis e tristes, são hinos para consumo individual, hinos em cápsulas, hinos dos solitários. Mas, antes que eu cometa um erro muito feio (e eu já ia cometendo), devo notar que essa aparente contradição acaba se convertendo em força. Já que as melodias parecem ecoar os sentimentos gigantescos de personagens pequenos. The suburbs é, se prestarmos atenção, o som dos desejos que não se concretizam.
Um disco planejado para soar mundano (a faixa de abertura, por exemplo, é até contida para os padrões da banda; idem para Deep blue e Wasted hours) e espetacular. Talvez um salto maior do que as pernas, mas um salto. Talvez não funcione totalmente, mas eles tentaram.
Mas – como eu disse e repito – nenhuma dessas questões conceituais soa mais decisiva do que a forma como o discurso do Arcade Fire se infiltra em nossas vidas, em nossas lembranças, em nossas aflições. Não existe conclusão em The suburbs porque nossas vidas também são imprecisas. E, se o disco parece se movimentar em círculos (com trechos de melodias e de versos que se repetem), é que estamos sempre retornando às nossas casas, aos nossos antigos problemas, aos nossos sonhos mortos, às nossas frustrações e à nossa adolescência.
É que, de vez em quando, ainda nos pegamos deitados na cama olhando para o teto e decepcionados e melancólicos e sem ter para onde ir e o silêncio lá fora. Mesmo adultos. Não é simples como parece.
Mas pensar em você, me devolve a vitalidade e me faz lembrar de que eu e o mundo, ainda tenhamos jeito.




segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

The Mission - Resurrection (1999)


Originária de um racha dos Sisters of Mercy, a banda The Mission teve sem dúvida um início pra lá de tumultuoso. Com a saída de Gary Marx, o guitarrista e co-fundador do Sisters, que após deixar o grupo, saiu alfinetando os ex-colegas . Seguiram-se os desentendimentos entre Wayne Hussey e Eldritch, culminando finalmente com a dissolução dos Sisters.
A princípio Craig Adam e Wayne Hussey tentaram, sem sucesso algum, conseguir contrato com alguma gravadora. Finalmente, depois de muito procurar, decidem apelar para a magia do antigo nome e se auto-denominam “The Sisterhood”  Fazem sua primeira apresentação em um clube de Londres chamado Alice In Wonderland, tocando as músicas “Wastland”, “Serpent’s Kiss” e “Severina”, canções compostas quando a dupla ainda fazia parte do Sisters.
Passaram a se chamar simplesmente “Mission”.
No final de 1985,  a dupla Wayne Hussey e Craig Adam criou o Mission, também chamado de Mission UK (o acréscimo no nome se deveu ao fato de existir uma banda americana de R&B também chamada Mission).


domingo, 9 de janeiro de 2011

Oceansize - Frames (2007)

Desculpe a demora. Eu estava de férias e o ano só esta começando para mim agora. Um ano que promete muitas novidades. Será um ano de crescimento e do meu grande amadurecimento. Que todos nós tenhamos um grande ano ! Mas vamos falar de música...

Em síntese, é uma banda britânica de rock progressivo formada em 1998, atualmente composta por Mike Vennart (guitarra e vocal), Steve Durose (guitarra e vocal), Gambler (guitarra e teclado), Steve Hodson (baixo e teclado) e Mark Heron (bateria). O estilo deles é algo entre o Post-Rock e o Prog-Rock, com vestígios de metal.

Mas essa banda é bem mais do que isso. Em três palavras, defino Oceansize como: técnica, complexidade e sentimento. Técnica, porque cada frase, cada trecho é executado com extrema precisão, demonstrando habilidade e harmonia fora do comum. Complexidade, porque suas composições estão repletas de pequenas nuances, variações de andamento e de tons, momentos suaves seguidos de explosões de guitarras e distorções, formando um som que se renova a cada audição. Sentimento, porque suas melodias despertam um turbilhão de sensações: indo de melancolia e paz, à euforia e fúria.

Frames (2007) é o último disco deles, e uma das melhores obras do gênero. É um trabalho maduro e de muito bom gosto. Enfim, imperdível.