C, sei que você não assistiu ao filme. Mas...9 anos depois de “Antes do Amanhecer”, Richard Linklater juntou-se novamente a Julie Delpy e Ethan Hawke para filmar “Antes do Pôr-do-sol”. A história também se passa exatamente nove anos depois da primeira. Sendo sucinto: no primeiro filme, as personagens de Julie e Ethan (Jesse e Celine) se encontram num trem, se apaixonam, vivem uma noite linda juntos e, antes do amanhecer, têm que se despedir. Combinam de se encontrar 6 meses depois, caso o sentimento deles seja realmente verdadeiro. O segundo filme começa com os dois se encontrando por acaso 9 anos depois, em Paris, o que dá a entender que o tal encontro não aconteceu.
Na continuação, o diretor e roteirista chamou Ethan Hawke e Julie Delpy para fazerem o roteiro junto com ele. Assim, as falas foram refeitas pelos próprios atores, que alteravam as palavras de forma que parecessem ficar mais naturais em suas próprias bocas – e isso realmente acontece. O filme se passa praticamente em tempo real: eles têm 1h30 para ficarem juntos antes do vôo de Jesse de volta para os Estados Unidos, e o que vemos na tela são 90 minutos de conversas entre os dois.
Logo que se veem, fica clara a falta de intimidade que o tempo impôs aos dois. As conversas são banais, pouco profundas. O casal parece estar se conhecendo novamente, do zero. Aos poucos, e de forma sutil, quase imperceptível, a intimidade entre os dois cresce. A ponto deles perceberem, temendo revelar ao outro e a si mesmos, que os nove anos que passaram sem se ver foram 9 anos perdidos em suas vidas. Que viveram o que era colocado em seus caminhos e não o que eles próprios colocavam em seus próprios caminhos.
Mas Jesse e Celine tentam resistir ao irresistível. Ambos têm seus compromissos amorosos, Jesse tem uma família e a vida que os americanos convencionaram chamar de ideal.
A cena banal inesquecível, para mim, ocorre bem no final do filme, quando Jesse e Celine estão no apartamento dela – ele ainda em dúvida sobre o que fazer, mas novamente encantado por ela. Celine então coloca um disco de Nina Simone e a dubla, imitando seus gestos. E, ao se fazer passar pela feia e desengonçada Nina Simone, ela definitivamente parece conquistar Jesse.
É possível, e talvez seja mais fácil, conquistar alguém imitando a Angelina Jolie, a Scarlett Johanson ou até mesmo a Malu Mader. Mas a beleza e a mágica de uma cena realmente acontecem quando se conquista, não só o outro personagem, mas toda a platéia, fazendo-se passar pela Nina Simone.
Uma das cenas mais românticas do cinema não tem um beijo, um abraço, nem muito menos um nu frontal. Tem-se uma mulher bonita – não linda – imitando uma feia. A trilha sonora composta por várias músicas de Julie Delpy.
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