segunda-feira, 16 de março de 2009

Carla Bruni, Comme si de rien n'était (2008)


Foi depois de abandonar as passarelas que Carla Bruni, italiana radicada na França, mais se viu nas bocas do mundo: primeiro, ao mostrar uma insuspeita veia lírica e musical com o primeiro álbum, o muito bem sucedido Quelqu'un m'a dit; mais tarde ao desposar o presidente francês Nicolas Sarkozy e trocar o estatuto de mulher livre e desimpedida, adepta da bigamia, pelo de primeira-dama francesa, e admiradora de Jacqueline Kennedy.Comme si de rien n'était já é seu terceiro álbum, e não há razão para continuarmos a duvidar: Carla Bruni canta não porque precise de formas adicionais de chamar a atenção para si, mas porque a música — invariavelmente serena, diríamos mesmo imperturbável — lhe vai na alma. O título, em português "Como se nada fosse", é um espelho dessa postura descontraída, quase glacial, que só mesmo as letras (com alusões às drogas em "Tu es ma came" ou aos antigos 30 amantes da cantora em "Je suis une enfant") poderiam quebrar. Mas não quebram.De regresso à língua francesa, depois da pouco celebrada incursão pelo inglês no anterior No promises, Carla Bruni aposta forte no folk, no bluegrass e no vaudeville, escolhendo para cada música as mais frugais das vestimentas: piano na airosa "Ma jeunesse" e na atmosférica "La possibilite d'une île"; flautas estivais na viciante "Ta tienne"; guitarra acústica em "L'amoureuse", perfeita cançoneta de verão, ou na falsa canção de ninar "Salut marin" (uma dedicatória, em tom de despedida, ao irmão Virginio, falecido em 2006 vítima da Aids).Mais evidente na controversa "Tu es ma came", mas palpável em todo o álbum, é uma certa abordagem blues, como se Carla Bruni não pretendesse desistir, para já, da música americana a que deu a mão no segundo álbum (a única música em inglês é, desta vez, uma versão despida de "You belong to me", gravada por gente como Bob Dylan ou Patsy Cline).Cálida e correta, a voz de Carla Bruni transporta o disco por águas seguras. Música bon chic, bon genre, sim, mas com alma lá dentro. A primeira-dama francesa serve, em bandeja de prata, canções folk para a coleção outono-inverno. Très chic!

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