Ao colocar o próprio nome em um disco, o artista se predispõe a reunir ali tudo aquilo que o define musicalmente, criando então uma obra à sua imagem e semelhança. Bom, pelo menos é assim que deveria ser.
Mas ao invés disso, Justin Vernon (a mente por trás do Bon Iver), optou por contaminar sua sonoridade límpida, caracterizada pelo folk ambiente, com elementos estéticos de natureza orgânica e eletrônica (de uma forma parecida -- porém mais sutil -- com o que aconteceu ao The Antlers em Burst Apart).
No álbum anterior, o sensacional For Emma, Forever Ago (Jagjaguwar, 2008), o instrumental suave permitia à voz também suave de Vernon sobresair-se quando necessário, para depois se perder entre dedilhados de guitarra ou acordes de piano -- tão simplista quanto genial.
Bon Iver, o álbum, contém momentos de igual equilíbrio e lucidez, como em Minnesota, Holocene, Michicant e Wash, mas também se permite enveredar por tons mais diversificados, o que na maioria das vezes funciona incrivelmente bem: é o caso de Perth, Towers e da bela Calgary (que ganhou um clipe igualmente interessante).
As incursões mais ousadas até podem causar estranhamento a alguns, mas não comprometem muito o conjunto da obra. Hinnom,TX trás manipulações vocais e uma levada synth-pop que é a cara do Oh No Ono -- e até me arrisco a dizer que é uma das faixas mais agradáveis do disco. Já a balada oitentista massante Beth/Rest não caiu muito bem. Enjoativa e descompassada demais, ela está nitidamente deslocada do restante do álbum.
Ao final, o maior mérito de Bon Iver pode não ser a capacidade de expressar fonograficamente o que representa a banda Bon Iver ou o músico Justin Vernon, mas sim a atitude de buscar novos horizontes, a coragem para abandonar a zona de conforto e se aventurar.
Seu nome não é Emma. Mas pode trocar por seu nome, ok? É do disco anterior.